sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

PASSEIO

Amanheceu e o dia estava lindo e quente, típico de Cuiabá. "Ainda bem!", pensei . Assim não atrapalharia nosso passeio. Cheguei à Unidade às sete da manhã e alguns idosos já estavam lá sentados, bem à vontade, de bermudas e chinelos, carregando nas mãos a sacolinha com seus pertences(toalha, muda de roupa,etc). Iríamos fazer um passeio com eles. Uma chácara perto da Ponte de Ferro, do irmão da Maíldes (vigia da Unidade), era o que nos esperava. Há um mês organizávamos esse passeio. Foi trabalhoso. Todos os funcionários da Unidade se envolveram com os preparativos, desde arrumar um local para onde pudéssemos ir e levá-los, até a condução , o cardápio, gás, água, copos descartáveis e outras coisas mais. Dividimos as tarefas e cada um de nós se responsabilizou por alguma coisa, depois rateamos as despesas e, apesar das diversas dificuldades que foram aparecendo, fomos em frente.Criamos equipes da cozinha, de compras, da condução, de primeiros socorros, entre outras, para dividirmos melhor o trabalho e a responsabilidade.




O lugar

E ali estava o grande dia. Verifico se está tudo em ordem.
"Alguem lembrou do adoçante?", perguntei.
Temos alguns idosos diabéticos. Tudo em cima. A nossa equipe é dez. A maletinha de Primeiros Socorros ( minha tarefa) está pronta, dentro tem de tudo: estetoscópio, aparelho de pressão, remédios anti- hipertensivos, material de curativo, etc, para qualquer eventualidade. Só faltava o ônibus chegar. "Tomara que chegue.", pensei. E, para a nossa alegria, lá estava ele. Esperamos um pouco os atrasados e partimos.


Banho de rio

O local era lindo e confortável, o rio era limpo , raso e bem perto da casa. O terreno era cheio de mangueiras e o chão coberto de mangas, para nosso deleite. A equipe da cozinha já iniciava os preparativos para o almoço, os idosos seguiram direto para o rio e nós atrás deles, como fora combinado (não deixá-los sozinhos dentro de um rio um minuto sequer). O rio estava delicioso e tranquilo, servimos bolachas e suco lá mesmo , pra que eles aproveitassem o máximo o frescor e a beleza do lugar. Depois do almoço, contamos piadas, rimos e dançamos forró, vanerão e rasqueado. Alguns dormiram um pouco e outros voltaram para o rio. Chegava a hora de partirmos e os idosos estavam relutantes em deixar esse lugar onde ficaram livres do fardo da doença e da idade, onde foram protagonistas e tiveram um tratamento especial sem precisar se preocupar com filhos, netos , comida, casa, nada e onde riram, dançaram e brincaram feito crianças.

Dança

Embarcaram no ônibus, não sem dar uma última olhada nesse pequeno paraíso, como se quisessem ter a certeza que o guardariam na memória, muitas vezes já falha, gasta pelo tempo. Agora voltavam para a realidade: a realidade da vida difícil, a realidade de ser apenas coadjuvante dentro de sua própria vida, a realidade que se aproximava junto com o ônibus. Seus rostos mudavam gradativamente, voltavam a apresentar as rugas e o olhar triste, voltavam à condição de idosos e doentes. Reassumiam as identidades esquecidas por algumas horas. As pernas, que há pouco rodopiavam dançando, voltavam a pesar como montanhas e os ombros curvavam-se com o peso do corpo, que há pouco boiava leve no rio. As cenas do paraíso iam ficando distantes à proporção que se descortinavam através das janelas e da poeira os telhados simples e as casas de um outro Paraíso.


Despedida

Um comentário:

  1. Que blog bonito! Que idéia boa! Achei navegando pela internet. Um abraço, doutora.

    Karla

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