terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A HISTÓRIA DE R.

Era um senhor forte, a barriga proeminente, mas tranqüilo e sorridente. Tratava há vários anos de hipertensão e diabete, tinha mais de 65 anos e um sorriso largo no rosto. Era casado e morava com sua esposa numa chácara na periferia do bairro. Ela também tratava de várias patologias, além de depressão Vinham sempre consultar , embora seu R. nem sempre seguisse as recomendações e o tratamento correto para as suas doenças: não emagrecia, gostava de um docinho, e quando viajava, então, era um problema, esquecia que tinha Diabete. Outra coisa difícil era convencê-lo a usar Insulina, dizia que preferia morrer a ter que tomar injeção todo o dia. Isso dificultava muito o controle de sua doença, mesmo ele tendo consciência de todas as complicações decorrentes dela.A penúltima vez que viajou para o Pará, há mais ou menos 2 anos, chegou na Unidade com uma glicemia altíssima, tivemos que encaminhá-lo ao Pronto Socorrro para controle. Gostava de presentear a todos da Unidade com limões que tinha na chácara, e eram muitos, além de trazer mandava que fôssemos lá buscar a hora que quiséssemos. Sua esposa, por sua vez ,me dava de presente doce de limão em calda que fazia e trazia nos potes de vidro enfeitados.A última vez que o consultei estava com a glicemia alterada e a auscuta cardíaca não estava das melhores, preveni-o para ter cuidado, ajustei o medicamento e encaminhei-o ao Cardiologista para avaliação, logo depois entrei de férias. Semana passada, Leci, técnica de enfermagem da Unidad, me ligou e disse que o sr. R. havia sofrido um enfarte fulminate no fim de semana, e não havia resistido. Fiquei consternada e sem palavras, gostava muito daquele teimoso. Vejo sua imagem sorridente carregando uma sacola de limões para nos presentear. Foi-se pra sempre, fez sua derradeira viagem de forma rápida e decidida como era seu perfil.Quando retornei ao trabalho, me depararei com sua ausência, não sei se inevitável, não sei se esperada,mas para mim é sempre uma partida única , é sempre um gosto de derrota.

Um comentário:

  1. Mãe, não tinha lido este. Muito bom! Se não atualizar por aqui os leitores somem, hein?

    Te amo muito.

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